Armário Extra Largo

Portugal Curvy #13 - AUTO-ESTIMA

Para celebrar os seus 12meses de existência, o Portugal Curvy desafiou-nos a falar sobre a nossa

A U T O - E S T I M A.

Quando recebi o tema deste mês, pensei logo

" Ok... aqui vou eu acordar os meus demónios "
Fechei o email com o pensamento

" depois, penso nisto! "

Com este tema, não se espera o outfit xl que estão habituados,

no entanto confesso, que não consegui desviar-me.

Sempre fui uma miúda de bem com a vida, otimista, alegre, tímida e gorda.

A minha mãe conta, orgulhosa, que sempre que as pessoas me diziam:

" És tão bonita mas tão gordinha..." eu respondia com um sorriso

" Sou gordinha e sou feliz! "

E foi assim durante algum tempo... talvez até chegar à adolescência e

os complexos me assombrarem e os comentários me magoarem. 

Porque, para além de gorda... sou baixa.

Mas também sou abençoada porque sempre estive rodeada de gente

que me ama e de gente que me quer bem e ajuda a não cair.

NUNCA sofri de bullying mas também nunca permiti que o fizessem.

talvez porque tenho personalidade forte.

As coisas mudaram quando perdi 12kg num mês.

E deixei de ser gorda e passei a ser só baixa.

:)

E foi assim durante meses até que voltei ao mesmo...

ou pior dupliquei o peso.

Deixei de ir a praia.

E quase desisti.

Nunca fui de transparecer os meus medos e angustias.

Sempre arranjei alternativas para que ninguém desconfiasse 

da minha não auto-estima. E acho que consegui!

Nunca me refugiei na comida (felizmente).

Por isso não pertenço ao grupo de pessoas que comem pizza ao pequeno-almoço.

Faço parte de uma família com hábitos saudáveis, que fazem exercício

diariamente, que se preocupam em não exagerar nos fritos e que etc etc

E tudo isto me foi incutido e sempre que me desvio mais do que é previsto...

tenho alguém que me chama a razão ;)

(Obrigada Mãe)

Sempre em prol da saúde e bem-estar.

Mas quando chegou á fase das comparações...

as inseguranças apoderaram-se e desilusões aconteceram.
As amiga magras diziam que estavam gordas. Entre elas falavam

sem noção do quanto me prejudicavam e eu pensava

"se elas são gordas... eu sou um bicho!"

Faziam dietas e eu acompanhava. Elas perdiam kgs e eu nem gramas.

Aos pouco, e depois de um conjunto de situações, percebi que estava no mundo errado.

Depois de muito pensar que ninguém gostava de mim porque eu era gorda, um dia 

resolvi dizer BASTA.

Aceitei que era gorda. E que a gordura era uma característica como outra qualquer.

Pensei:

"A partir de agora EU SOU MAIS EU!

 Quem gosta, gosta. Quem não gosta.. temos pena!"

E foi a melhor escolha que eu fiz.

Mudei a minha postura. Acreditei em mim. Levantei a cabeça e

refugiei-me no meu curso. A desenhar.

E não foi fácil.

Tive momentos menos bons mas todos eles valeram a atitude.

 E foi assim durante anos até ter uma recaída de saúde mental.

Veio um esgotamento e depressão que me fizeram engordar e nunca mais,

até à uns meses atrás, me senti a poderosa Iso...

À 5anos atrás sentia-me a pessoa mais feia do mundo.

Gorda de mais.

Baixa de mais.

Com celulite a mais.

Pêlos a mais.

Portanto, a última bolacha do pacote... toda partidinha!

E não saía disto. Eu e comigo. Quando me deitava sentia-me

exausta de tanto fingimento. Fingi. E olha que fingi muito.

Fingi que me aceitava.

Fingi que gostava de ser gorda.

Fingi que não me importava com a opinião dos outros...

Fingi que acreditava que não era por ser gorda que não gostavam de mim (homens),

fingi que acreditava que era uma coisa do "ainda não era o meu momento"

Mas cansei.

...

Desabafei com quem amo. Muito.

E tomei lanço para virar a página... que ainda não foi virada totalmente, mas irá ser.

Lembrei-me da Iso feliz, a Iso poderosa, que eu fui naquele tempo e tive saudades.

Lembrei-me de uma frase da amiga da faculdade:

"És demasiado cruel para ti!"

Comecei a espevitar... quando me apercebi que tinha feito cada filme desnecessário

na minha cabeça... Que afinal,

havia pessoas que gostariam de se aproximar 

e eu não deixei.

Construi muralhas.

Afastei pessoas que provavelmente

teriam sido peças chaves para o meu bom desenvolvimento e aceitação...

Mas... como não sou de chorar pelo que fiz ou deveria ter feito.

O que lá vai lá vai.

E o importante é o que temos hoje, e o que virá...

que seja bom !

Mas para isso há que agir e reagir.

Eu quero viver com aquilo que tenho...

e tenho tanto.

Temos tanto.

A minha melhor amiga M* e as minhas amigas todas conseguiram

com que  eu abrisse as comportas da muralha.
A vida encarregasse de nos ajudar.

Conhecesse uma pessoa aqui outra ali

e os alicerces vão ficando cada vem mais fortes.

O 1º passo foi abrir este blog. Foi o meu 1º sinal de aceitação.

O 2º aconteceu depois do convite da Ana e Patricia para fazer parte

deste movimento que, funciona como uma terapia e um desafio

- que ponderei em desistir porque no dia

da minha participação tive vergonha do que os outros iriam pensar.

NUNCA gostei de me ver em fotografias... escondia-me atrás das selfies 

porque era eu e só eu.. sem plateia, sem ninguém a observar.

De corpo inteiro... só se fosse atrás de alguém, escondida.
(nunca tive muita sorte porque... sou baixa..

sou sempre chamada para ficar na 1ªfila :/)

Sempre fiz com os outros se distraíssem e não me observassem.

Nunca gostei de me sentir vulnerável ou centro das atenções.

Por isso, sempre arranjei soluções para não me expor.

Sei que o caminho é longo, sei que terei altos e baixos...

Hoje, sei que ainda não voltei a ser a Iso que fui,

mas estou mais segura do que nunca

Hoje o que me importa é o que eu quero e gosto.

Hoje, não ser aceite por todos pouco me incomoda.

Respeito,

aceito e

sigo em frente.

Hoje não me culpo por ser baixa.
Hoje concentro-me no meu objetivo. 

Hoje preocupo-me em ser feliz e retribuir todo o amor

que até hoje me tem dado.

Hoje estou aqui, por mim e por nós.

Hoje acredito que sou muito mais do que um tamanho 44 e

que não preciso ser magra para ser aceite.

Hoje não retenho comentários desnecessários

nem tão pouco absorvo o que me faz mal ou me deixa triste.

Hoje, e mesmo ainda com objetivos por alcançar, tenho

consciência do meu valor e da minha capacidade.

Hoje o intuito é ter a certeza que quero 

excluir tudo e todos aqueles que

não contribuem para a minha

paz e bem-estar.

xoxo

iso

p.s Obrigada Ana e Patricia por contribuirem para este meu processo de aceitação

vejam os outros testemunhos da grupo Portugal Curvy